Endividamento atinge 78% das famílias brasileiras, maior taxa dos últimos 12 anos
Quase 5 milhões de lares que vivem nas capitais tinham alguma conta em atraso ao fim do 1º semestre de 2022
O porcentual de famílias endividadas no País vem crescendo de forma acelerada, encerrando o primeiro semestre deste ano em 78% – o maior patamar da série histórica para o período desde 2010. Para se ter uma ideia, em junho de 2020, o nível de endividamento das famílias era de 67%, passando para 71% em junho 2021. Isso significa que, há poucos meses, mais de 13,1 milhões de lares residentes nas capitais brasileiras estavam endividados, 1,16 milhão (9,7%) a mais em comparação a junho de 2021.
O número de famílias com dívidas em atraso também cresceu. Pouco mais de 4,9 milhões tinham alguma conta em atraso no fim do sexto mês do ano, quase 600 mil a mais do que no ano passado. A combinação de queda na renda e aumento no endividamento resultou numa inadimplência maior.
Os dados são da Radiografia do Crédito e do Endividamento das Famílias nas Capitais Brasileiras. O estudo é realizado tradicionalmente para avaliar o comportamento das famílias brasileiras em relação à administração de suas condições financeiras e da utilização das opções de crédito.
Foram três períodos relevantes considerados na radiografia: a primeira metade do ano de 2020, em que foram impostas as restrições mais rigorosas visando ao controle da pandemia; o primeiro semestre de 2021, que mesclou o momento mais letal da pandemia, o início da vacinação e reabertura das atividades; e o primeiro semestre de 2022, com um cenário de vacinação e de retomada das atividades econômicas já consolidado e uma volta à normalidade.
Ao fim do primeiro semestre de 2022, a renda média das famílias das capitais brasileiras havia caído 3,9% em relação ao mesmo período de 2020. Já diante de um cenário de volta à normalidade, a renda média registrada há poucos meses teve leve queda (-0,4%) em comparação a junho de 2021.
Já o porcentual de famílias com contas em atraso – que havia caído entre 2020 e 2021, de 26,3% para 25,6% – voltou a subir de forma acelerada, atingindo 29% em junho de 2022, o maior patamar desde o início da série histórica (2010).
Endividamento não é necessariamente ruim para a economia
O Sincomércio-BSVR ressalta que o simples aumento do número de endividados não é um fato negativo de maneira isolada, uma vez que maior acesso ao crédito é elemento essencial para que a população possa adquirir bens de forma parcelada. Esta variável deve estar associada a outras, como comprometimento da renda (capacidade de arcar com as dívidas) e variação de inadimplência.
Quando também se observam dados de elevação significativa de consumo entre 2021 e o primeiro semestre de 2022, nota-se a utilização muito intensa do crédito no período para comportar as compras varejistas, que estavam reprimidas durante os meses mais rigorosos da pandemia.
A Entidade espera uma melhora das variáveis do uso do crédito nos próximos meses, considerando a evolução dos fatores que afetam o nível da renda familiar: o mercado de trabalho mais aquecido; os números do Produto Interno Bruto (PIB) sendo revisados para cima; a inflação em um ciclo de queda no segundo semestre; e a maior injeção de renda na economia.
Base de dados
A Radiografia do Crédito e do Endividamento das Famílias nas Capitais Brasileiras analisa as principais variáveis de crédito – como endividamento, comprometimento de renda, capacidade de pagamento, entre outas – a partir de dados de todas as capitais brasileiras obtidos pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Bases primárias de dados utilizadas: Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), contagem populacional, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua e Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), todas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); além das taxas mensais de endividamento, comprometimento da renda e famílias com contas em atraso, constantes na PEIC, da CNC.